FORGET ME NOT
Sinopse
FORGET ME NOT
Uma homenagem a todos aqueles que a determinada altura das suas vidas começaram a esquecer-se deles mesmo, e nós, enquanto estamos na plena consciência das nossas faculdades mentais, temos por dever não nos esquecermos dessas mesmas pessoas.
"São duas as minhas pernas, uma pode e a outra quer, e mantenho-me em equilíbrio, entre o que quero e o que posso, não sou assim tão diferente do Cais das Colunas, donde partiram todas as memórias para terras distantes, e voltaram em forma de sonhos, que sonho sem me pronunciar muito, como se sofresse duma sagrada ignorância, e toda a sabedoria fosse a minha Mãe, mãezinha! Mãezinha…, repito muitas vezes, e já não acredito que Ela também partiu há muito, sei que não estamos em 2020, e nunca admitiria já ter vivido 90 anos, rejeito memórias obscenas, e quero que me contem histórias, não reconheço ninguém a não ser aquele rapaz que gosta das coisas de antigamente, chama-se “doutor” é um nome curtinho, por quem pergunto sempre, então hoje veio o “doutor”? Gosto da companhia dele e fico a sorrir quando ele conta coisas doutros tempos, e me dá o braço para me levar a passear na varanda e no jardim, nesta casa grande, com muitos quartos, serão todos meus? Ainda tenho pernas para andar, e consigo dobrar-me para apanhar os óculos, para ver as pessoas, são tantas, que vão e vêm, lembro-me deles como das algas debaixo das águas do mar, quando mergulhava de olhos abertos, e elas dançavam à minha volta, como sereias cujos cabelos se enrolavam às minhas pernas, quando eu queria, e podia mergulhar e voltar à superfície com os olhos cheios de água, as coisas não mudaram muito afinal, continuo a nadar em sonhos à superfície do esquecimento, ao som da rebentação."
(Gulob)
(texto da escultura boneca com tatuagens)
"Crisálida dos Sonhos
Olhem para mim e escutem o silêncio. A não ser que ouçam não me poderão ver. A não ser que vejam não me poderão ouvir. O que eu já fui e o que sou agora, despida de uma beleza longínqua, de um passado grávido de amores infantis quando dormia em camas quentes de ternura entre meninas sonhadoras.
Não olhem para mim sem me verem. Procurem compreender o sentido das minhas formas. Leiam o meu corpo escrito e reescrito, pela vida tatuado. Aqui estou no meu pedestal de mármore distante mas tão próxima, erguida ao sol de verão dos vossos olhos mas ferida por este sorriso cego, tímido e incrédulo de pedinte que nunca viu o azul do céu de um dia lindo, daqueles dias que derramam nos corações o perfume de Deus.
Olhem para mim, sintam também borboletas na barriga mas não pensem… porque a mente é a grande assassina. Sintam com a pele, com o coração e com as vísceras para que as crisálidas dos vossos medos se transformem em vivas e coloridas borboletas. Como estas, como as minhas.
Depois falem de mim como de um sonho mas digam sempre a verdade essa língua estranha que poucos falam porque a língua neste mundo mais conhecida é a mentira."
José António Rousseau
Outras informações
3.ª a sáb. das 10h30 às 16h30
Local: Galeria Municipal
Público-alvo: Público em geral
Entrada Livre