6ª questão – um sistema mais preparado para as crises

Num cenário provável de crises sanitárias recorrentes, agravadas pela crise climática, deverá o sector das artes e da cultura repensar alguns dos seus formatos e adotar regras imperativas de sustentabilidade. As programações assentes no tempo longo talvez devessem ser menos abundantes, para dar mais espaço aos formatos flexíveis, adaptados à mudança. Novos formatos de programação arrastarão novos formatos de produção e de comunicação cultural. Os cenários de crise também solicitam uma atenção nova aos planos de contingência (para a defesa da memória e do património, por exemplo). E colocam aos criadores desafios prementes: quanto às práticas amigas do ambiente e de combate ao desperdício, quanto à utilização dos recursos económicos, e quanto às qualificações dos seus profissionais.

O seu comentário foi submetido com sucesso. Receberá no seu e-mail uma confirmação.

Comentário
Os seus dados
2 Comentários
Luis Figueiredo
Técnico Superior
05 Jun 2020
A economia interpenetrou-se na cultura adquirindo, de um modo crescente, uma especial importância, no sentido em que se distancia da ideia que a cultura e a arte eram termos associados apenas à sociedade e ao estado e dissociáveis da economia. Contrariamente, assiste-se a uma ligação que consequentemente se reflecte nas produções culturais, nas suas mais variadas vertentes, pelo que se cumpre referir de um modo particular este assunto.
As políticas culturais visam a promoção do sector cultural e artístico qualificado, tendo sempre presente a competitividade e a inovação, dando resposta às necessidades dos cidadãos e permitindo-lhes participar activamente na vida cultural e são da responsabilidade do Governo.
“Para continuar a ser competitiva neste contexto global em evolução, a Europa tem de criar as condições certas para que a criatividade e a inovação possam florescer numa nova cultura empresarial. Existe um vasto potencial desaproveitado nas indústrias culturais e criativas para gerar crescimento. (...) Grande parte da nossa prosperidade futura dependerá da forma como utilizamos os recursos, conhecimentos e talento criativo de quem dispomos para estimular a inovação.”
Actualmente, tendo em consideração as dificuldades sentidas no país, observa-se o apoio às empresas culturais e criativas através da criação de mecanismos de cofinanciamento - público e privado - e a um incentivo à utilização da cultura como elemento de identidade regional e factor de diferenciação competitiva de base territorial, adjudicando parte do trabalho às autarquias, constatando-se que as despesas realizadas pelos Municípios e Regiões Autónomas ascendem a alguns milhões de Euros, escolas e sociedade civil, com o intuito de optimizar os recursos existentes, valorizando a conservação, a investigação e a interacção com o público. Mais importa referir a promoção da internacionalização, no sentido de mostrar o "que de melhor" se faz em Portugal, através de programas de financiamento para servir este intento e a acções de formação para produtores culturais.
No meio de tudo isto deveremos alterar os nossos comportamentos, bem como as programações culturais, que até agora privilegiavam os longos períodos de tempo, talvez a partir de agora de possam adquirir visita menos abundantes de público, promovendo a personalização e o aumento do espaço, criando formatos mais flexíveis e de certa forma melhor adaptados à mudança.
Penso que deveremos debater estes pontos de vista que no fundo sugerem uma mudança de atitude de todos nós neste pósCóvid-19.
Ljiljana Rogac Mijatovic
professor cultural management, UNESCO Chair University of Arts
17 May 2020
We are witnessing a situation in which urgent action is required to reduce the consequences of the pandemic crisis on culture and avoid potentially irreversible damage. It is clear that an emergency plan for culture is needed, but there can hardly be a strong one at this time of uncertainty. However, it is important to set goals and priorities for the cultural and creative sectors towards sustainability. An ecosystem supporting artists, cultural and creative professionals should be re-created in line with the crisis at global scale. Social cohesion and well-being of people will be more and more a path to strive for, thus evolving structures in arts production and cultural communication need to be both flexible and endurable so that multi-fold goals can be achieved. In these conditions of complexity and uncertainty, the key issue underpinning the cultural system is how to anticipate future challenges and design strategies with many perspectives and sensitive to various biases. Cultural sustainability should thus be both a goal and a means to face crisis, both in terms of environmental, economic and wider social terms.